OS MONSTROS DE JONZE
Baseado em um livro infantil, escrito em 1963 por Maurice Sendak e publicado no Brasil somente no ano passado, de 40 imagens e 9 frases, Onde Vivem Os Monstros, é uma análise um pouco mais densa sobre a maturidade das crianças.
Eu estava indo ao cinema e acabei pegando uma chuva como era de se esperar nessa época aqui em São Paulo, faltavam 10 minutos para o filme quando cheguei ensopado a bilheteria e logo depois fui me trocar no banheiro (a sorte era ter outra roupa na mochila) e entrei esperando me divertir. Na sala umas 10 pessoas, entre elas, 4 senhores espalhados pelo cinema sozinhos e prestando muita atenção nos trailers… Ah eu tinha comprado uma fanta laranja antes de entrar. Spike Jonze, diretor do grande filme Quero Ser John Malkovich, começava bem, a “opening scene” foi grandiosa. Pronto, já estava me divertindo…
O livro de Sendak, na época foi alvo de críticas ofensivas e chegou a ser tirado das livrarias em alguns lugares, pois é um livro anormal ao universo infantil, ele não tem uma “moral da história” e não chega perto de querer educar as crianças em bons modos cristãos. Enfim, o livro trata a maturidade de um jovem que é mandado para a cama sem jantar e cria uma floresta em seu quarto, onde lá é criado um mundo novo onde vivem monstros e ele é o rei. No filme, é claro, Jonze muda alguns aspectos da história e escreve um roteiro “quase original” vamos dizer assim, mas não tira a essência do livro. A verdade é que Jonze explicitou a rebeldia, a solidão, o mergulho na mente de uma criança altamente criativa que se sente ignorada. A neve no começo do filme ajuda a mostrar que nada ali é divertido, além do iglu que Max constrói para tentar se divertir, ao ser ignorado por sua irmã, ele tenta chamar a atenção dela e de seus amigos jogando bolas de neve e começando uma “guerra” e é repreendido pelos meninos mais velhos que destroem seu iglu. Depois disso Max sente ciúmes da Mãe e seu novo amigo, e tentando chamar atenção mais uma vez é repreendido mais uma vez, e então foge de casa. E o que mais tem no filme é Max correndo e a câmera na mão o acompanha (aliás a câmera na mão é um dos pontos técnicos mais altos do filme). É então que Max foge pelo mar com seu barco, enfrenta grandes tempestades e chega a uma aldeia no alto de uma montanha que escala. Lá é onde vivem os monstros e logo Max se torna rei daquele lugar. É claro que existem alguns simbolismos que não passam despercebidos, e o mais importante é a personalidade de cada criatura que nada mais são do que manifestações da personalidade do garoto. Carol é naturalmente com quem Max mais se identifica, pois ele é o egocêntrico da turma, o comandante, o chefe até agora, e que quando é desconfiado pelos outros se mostra frágil e orgulhoso.
Um conto de fadas anormal, estranho, e muito bem executado pela equipe de Jonze, o fotógrafo Lance Acord, o mesmo de Being John Malkovich, dá a esse mundo fantástico uma naturalidade e deixa tudo que vemos, poético, como deve ser. Na música, Karen O, ex namorada de Jonze, e vocalista do Yeah Yeah Yeahs, deixa o filme mais emocionante ao emplacar as canções com crianças cantando junto, nos momentos de mais ação e liberdade das cenas. A escolha do ator foi um processo que Jonze demorou para terminar, e no finalzinho acabou achando essa raridade, Max Records, é um ator brilhante, seguro, soube criar uma relação insubstituível com a história e com os atores. Max Records é comparado, por seu estilo de atuação frente às câmeras a Sean Penn, mas aí é outra história. Ótimo ator e certo para o papel.
Onde Vivem os Monstros é absolutamente recomendado, e para todo mundo, pois como diz o trailer: “dentro de nós está tudo que você já viu, tudo que você já fez, todos que você já amou. Há um dentro de todos nós”
O filme, como o livro, é composto por metáforas da maturidade infantil e de como ela se desenvolve enfrentando problemas constantes. Os monstros são os sentimentos de Max, e ele ao tentar dominá-los, virando rei, acaba saindo derrotado, e é quando ele percebe que não existe mais ali, lugar para ele.
Terminou o filme e meu cabelo estava seco. E ao olhar pra trás, vi um senhor que sentado sozinho, enxugava as lágrimas.
por Isabella Morselli